dois coelhos

Esta é a nossa história, dois rapazes destinados um para o outro, que se conheceram quando um tinha 20 anos e o outro 26.
Desde esse dia que a nossa vida mudou para sempre! E vocês são as nossas únicas testemunhas!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

E ainda... a coadoção!

Na última semana fiquei verdadeiramente enojado com as notícias que davam conta da aprovação do referendo à coadoção. É incrível o estado decrépito a que chegou a política nacional. Pergunto-me o que terão na cabeça os deputados jotas que propuseram e conseguiram aprovar isto.


O que não têm, certamente, é a mínima noção da realidade que se passa fora das suas vidas bonitas. Não fazem ideia o que é ser uma criança institucionalizada, não ter referências parentais, ter uma mãe para si e mais vinte em turnos de 8 horas.

Tive o privilégio de conhecer, há uns anos, uma instituição deste género, o Centro de Alojamento Temporário de Tercena, onde são acolhidas crianças a partir dos 4 anos, na sua maioria porque foram retiradas às famílias de origem por decisão judicial. Era uma realidade que desconhecia completamente, porque cresci num meio rural com os valores da família tradicional católica muito incutidos.

Não digo que todas as crianças institucionalizadas são infelizes, longe disso. Mas, não sendo psicólogo de formação, mas com formação nesta área, percebo que nenhuma instituição se consegue substituir à figura parental, seja ela paterna ou materna. Isto não é uma constatação pessoal, os modelos de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo (Erikson, Piaget, Lorenz, Wallon, Skinner, Bandura...) assim o dizem.

O que de facto as crianças precisam é de afectos. E estes podem ser dados por qualquer pessoa, homem, mulher, homens ou mulheres, desde que se assuma essa mesma responsabilidade, e responsabilidade não tem nada a ver com orientação sexual. O que elas precisam é de famílias que as amem, e o conceito de família não é nem pode ser, felizmente, definido pelo Estado.

Por outro lado, há um claro interesse em confundir opiniões, fazendo duas perguntas substancialmente diferentes, propositadamente confundindo coadoção e adoção. Pese ainda a minha opinião parcial favorável às duas medidas, são questões completamente diferentes, e questionam direitos diferentes (são os direitos referendáveis???), num caso o direito da criança, no outro, eventualmente, o direito dos futuros pais.

Por último, um receio... o receio da radicalização de opiniões devido a um debate superficial e parcial na sociedade, monopolizado por uma classe política alheia da realidade, cointerpretado por uma igreja secularizada e presa em dogmas ultrapassados, ao invés de critérios científicos (indiquem-me um estudo reconhecido cientificamente que refute a adoção por casais do mesmo sexo) e defendendo o que mais importa: o real interesse e benefício da criança.

20 comentários:

  1. Triste, triste é só o que tenho a dizer. Ou se calhar deprimente. É uma palavra melhor para descrever toda a situação. E quando a pobreza de espírito vem de cima ainda é mais grave. Esperar por melhores dias, tipo never.

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    1. Mas, bolas, estes são os tipos que vão governar o País???

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  2. Foi um tema debatido até à exaustão, e bem, nos últimos dias.
    Eu já disse muito sobre o assunto, algumas das vezes, a quente, mas também, de uma forma mais racional no comentário que deixei no blog do Mark; porque é impossível dizer aqui, mesmo por outras palavras, tudo o que penso sobre o assunto, tomo a liberdade de te deixar o que lá escrevi:
    "...A Lei é a Lei mas há várias formas de a interpretar...
    No que aqui referes e que reporta ao triste espectáculo do final da passada semana na AR com a votação da proposta do referendo sobre o projecto de lei da coadopção, apresentado pelo presidente da JSD, ressaltam quanto a mim algumas referências do processo: ele ficou a dever-se a uma tentativa, (conseguida) do PSD, por intermédio da JSD de obstruir a aprovação na especialidade de um projecto de lei sobre a coadopção por parte de casais do mesmo sexo, projecto esse que já tinha sido aprovado no plenário, onde, e muito bem, não tinha sido imposta a disciplina de voto, já que em matéria de direitos, essa deveria ser sempre a regra.
    Claro que a manobra só resultou porque desta vez os dois partidos do Governo impuseram a disciplina de voto, o que levou a atitudes hipócritas de alguns deputados da maioria, com uma ridícula tentativa de desculpar o seu voto com declarações sobre o mesmo; se queriam estar de bem com a sua cosciância, ter-se-iam ausentado do plenário, para não desrespeitar a determinação dos grupos parlamentares, como fez Teresa Leal Coelho e suponho que mais um/a deputad/a. Mas enfim, foi conseguido o que se pretendia e que é maquiavélico, pois além de se pedir um referendo sobre um direito e os direitos não são referendáveis, este teve o cunho pérfido de englobar a pergunta sobre a coadopção com uma outra sobre a adopção, que já havia sido reprovada em plenário, e que, segundo tenholido, torna um referendo nestas condições, incostitucional, o que o invializará, se bem que isso é precisamente o que pretende o PSD.
    O PSD não quer o referendo, este serviu apenas de meio para não ser aprovada uma lei, esse é qu é o ponto.
    Foi um actoignóbil que poderá pôr em risco crianças o que em nada demoveu os mesquinhos interesses partidários.
    Agora, nem o silva de Belém escusa de se estar a preocupar para explicar a sua eventual decisão porque o TC se encarregará disso.
    Só tenho uma dúvida, mas que infelizmente parece já me terem esclarecido; no final desta trapalhada, e sem referendo, cessa o projecto lei que estava em cursona especialidade ou ele é retomado no ponto em que foi suspenso? Parece que terá que cessar, que é o que o PSD pretendia,
    E terá que haver uma nova proposta de lei que duvido seja apresentada nesta legislatura, pois decerto os mesmos partidos voltarão a impôr a disciplina de voto aos seus deputados.
    É caso para se dizer: puta da política quando interfere com aspectos fundamentais como são os doreitos humanos, quer sejam ou não apenas de minorias."
    Desculpa o imenso testamento.

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    1. Não tens que pedir desculpa pelo testamento, tenho todo o gosto em ler a tua opinião. Na altura em que li o post do Mark ainda não havia comentários.
      De uma forma geral, estamos de acordo. Apenas uma nota, em relação a Teresa Leal Coelho... se de facto quisesse afirmar a sua posição, teria permanecido durante a votação e votado de acordo com a sua consciência, mesmo que desrespeitando a disciplina de voto. Assim se vê que é "o aparelho" que, na penumbra, verdadeiramente governa.

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  3. Concordo contigo. E os debates se os houver, vão ser superficiais e para confundir ainda mais. É lamentável. Vamos ver no que dá mas não me cheira...

    Abraço.

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    1. Vão haver debates, claro, com opiniões inflamadas de Marinhos Pintos, bispos e cardeais, e doutores de boas famílias.

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  4. Já muito foi falado sobre isto. E não e ideologia nem valores. É mesmo estupidez coletiva dos sociais democratas. Até o CDS conseguiu ficar Bem na fotografia, apesar de tudo...

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    1. Para mim o CDS nunca fica bem na fotografia. A abstenção foi uma jogada de rodapé, porque a aprovação da medida estava garantida.

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  5. Muito bem menino Coelho. Gostei muito do discurso clap clap. Como já deves ter percebido, sou a favor de tudo o que escreveste. E temo que toda esta polémica, só leve à perseguição e à intolerância como temos visto na Nigéria e na Rússia.

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    1. Cheguei a casa já tarde no dia em que isto foi aprovado. Vinha cansado, mas a fervilhar por dentro. Já na caminha, como é habitual, dei uma volta pelos blogs no telemóvel, e fiquei um bocado triste de não ter visto referência nenhuma. Mas no dia seguinte li o teu post, e gostei bastante. Depois veio o do Mark, e agora mais um ou dois. Isto dos blogs é muito giro pôr uns videos e falar de uma viagens, mas o que mais conta é mesmo exprimirmos a nossa opinião. ;)

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  6. Muitos parabéns pelo post, além de me identificar bastante gostei da subtileza na escrita. Amanhã publico um post sobre o mesmo tema mas não tenho nem a tua calma nem a tua subtileza ;)

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    1. Eu não sou propriamente uma pessoa calma. Subtil talvez, mas calmo não. Ainda assim, obrigado pelo elogio. ;) Sabe sempre bem!

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  7. r: como é que sabes que as drogas são mais divertidas? :P | não faço ideia se a água está quente, mas não me importaria nada de descobrir... | vou batalhar pois :) | encontrei o tumblr deles e foi atualizado há dois 2 dias, mandei-lhes uma ask... pode ser que respondam ^^

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  8. CO-ADOPÇÃO

    Claro que este referendo não vai acontecer. Se não for chumbado pelo Tribunal Constitucional, será vetado pelo Presidente da República.
    A infantilidade é de tal forma evidente, a maioria atirou mais uma acha para a fogueira onde arde a credibilidade do Parlamento, desacreditando ainda mais a democracia.
    Triste papel este a que se dão os ditos representantes do povo.
    Escolheram o pior momento e o pior tema para tão execrável jogo político.
    Numa altura em que reina a desconfiança generalizada em torno das instituições democráticas.
    Este tema envolve pessoas concretas, famílias e crianças que existem, e que exigem respeito.
    Estes energúmenos brincam com vidas, e sentimentos.
    Assistimos ao que de pior existe na política: a leviandade destes jacobinos a usar a vida dos cidadãos, para as suas mesquinhas demonstrações de poder.
    Foi mais um rude golpe numa democracia representativa, mas já moribunda.

    ABRAÇAÇO

    http://diogo-mar.blogspot.com/

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    1. Olá Diogo.
      Concordo plenamente contigo, acho que a politica portuguesa está a chegar ao nível da italiana. É revoltante quando pago imenso em impostos, entre o que me é descontado no ordenado e o que pago de IRS, para depois ver a bela merda de serviço que estes políticos prestam.

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  9. Boa reflexão, Coelhito.

    De facto, levantaste inúmeras questões bastante pertinentes. Aguardemos pelo veredicto do Tribunal Constitucional e pelo proceder de Cavaco Silva. Eu estou convencido de que a proposta de referendo será considerada inconstitucional. Perguntas que incidem sobre matérias que podem eventualmente ser consideradas diferentes, o referendar o direito à protecção das crianças... Há muito que pode ser arguido em defesa da inconstitucionalidade.

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    1. Quando escrevi este post só tinha ainda lido o teu e o do namorado. Estava com uma fúria, e de certa forma a tua visão jurídica ajudou-me a aclarar o pensamento.
      Veremos o que acontece. Tenho alguma expectativa do TC, já de Cavaco Silva nem tanto.

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