dois coelhos

Esta é a nossa história, dois rapazes destinados um para o outro, que se conheceram quando um tinha 20 anos e o outro 26.
Desde esse dia que a nossa vida mudou para sempre! E vocês são as nossas únicas testemunhas!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Washington 1

Uns minutos depois de termos chegado a Washington, junto ao Bus Terminal, chegou o Douglas no seu sedan, para nos levar até casa, onde o Raymond estava à nossa espera. O Douglas, 50 anos, e o Raymond, 60 anos, estão juntos há nada mais que 27 anos, o que os torna o casal gay com a relação mais longa que conheço (seguidos de perto pelo Luis e o Gonçalo, e pelo Arrakis e o R.). Tal como lhes disse quando lhes enviei o pedido para ficarmos lá em casa, fascina-me conhecer pessoas assim. E o Raymond respondeu "e a nós fascina-nos conhecer um casal que ambiciona isso também".

Vivem numa moradia vitoriana (as coisas que eu aprendo) na zona sul de Washington, com 2 cães e 8 gatos, que competem furiosamente entre si para receber festas. Não ficámos muito tempo à conversa, estávamos cansados de carregar as malas todo o dia por Filadelfia e os nossos anfitriões tinham de trabalhar cedo no dia seguinte. Tivémos um andar da casa só para nós, com quarto, sala, casa de banho e gatos.

No dia seguinte, depois do pequeno almoço com eles, o Douglas deu-nos boleia até ao Capitólio. Como tinha dito neste post, reservei visitas guiadas à sede do Congresso Norte-Americano, às 9h. Mas logo à entrada houve stress... tínhamos levado um saco com M&Ms na mochila. À entrada no Capitólio (segurança tipo aeroporto) havia um aviso que era proibido entrar com comida, mas só assimilei que M&Ms é comida já a mochila estava em cima do tapete do Rx. Agarrei novamente na mochila, começo a abrir para tirar os doces e de repente um polícia bruta-montes vocifera 'Put your bag down!' Tentei explicar, um bocado nervoso, que só queria tirar os M&Ms, ele saca da arma e berra novamente 'I said, put yout bad down! Now!' Naquele momento, toda a gente estava a olhar, polícias, visitantes, enfim...

Depois de ultrapassarmos a segurança, as coisas lá acalmaram. O guia era um bocado novato, mas lá foi explicando a importância do edifício, a história de Washington e dos próprios EUA, repetindo algumas coisas que já tínhamos ouvido no dia anterior. A título de curiosidade, aqui ficam alguns pormenores engraçados: o local que é hoje capital dos EUA era, na altura da independência, um pântano. Decidiu-se construir ali os edifícios governamentais porque o sítio era tão inacessível que não seria fácil chegarem lá os manifestantes descontentes com o governo (a versão oficial diz que George Washington referiu que o sítio era tão inacessível que a corrupção não chegaria lá...); o Senado reúne se na Ala Norte, e a Câmara dos Representantes na Ala Sul (sistema de duas câmaras, que em Portugal não existe); a cúpula é a quarta maior do mundo; existe um mausoléu no edifício, que era destinado a George Washington, mas ele recusou ser sepultado lá; há centenas de estátuas, de representantes importantes de todos os estados, porém, nenhuma deu tantas dores de cabeça como a de Kamehameha I, do Hawai. Para além de ser a mais pesada, de acordo com a crença das ilhas do Pacífico, ninguém pode estar acima da estátua, pelo que esta está em exposição... no último andar.


Do Capitólio há uma passagem directa para a Biblioteca do Congresso, e chegámos mesmo a tempo da visita guiada (e gratuita) das 10h30. A Library of Congress é a maior biblioteca do mundo em termos de acervo. Para além de toda a biblioteca pessoal de Thomas Jefferson, material em mais de 400 línguas e dialectos (a maioria já extintos), alberga uma das melhores cópias da Bíblia de Gutenberg e também a Bíblia de Mainz, dois dos livros mais importantes da história da humanidade (já agora, para quem não sabe, em Portugal também há uma Bíblia de Gutenberg). A Main Reading Room é tal e qual como nos filmes. Para não perturbar os leitores ficámos confinados a um canto da sala, enquanto o guia ia debitando informação. Por exemplo, a cúpula é suportada por oito enormes colunas de mármore, em cima das quais estão estátuas de figuras femininas, que representam oito aspectos da vida e pensamento das civilizações: religião, comércio, história, arte, filosofia, poesia, lei e ciência. As 16 estátuas de bronze representam pessoas que se destacaram em cada um desses aspectos, como Miguel Ângelo, Beethoven, Colombo, Platão, Homero, Shakespeare, Moisés, Newton...






Estava um tempo fantástico. O National Mall, um relvado enorme que vai desde o Capitólio até ao Lincoln Memorial, passando quase em frente à White House, está rodeado por alguns dos melhores museus do mundo, e o melhor de tudo, são gratuitos!

Supremo Tribunal Norte-Americano

A barriga já dava horas, e seguimos o conselho do Raymond e fomos à cafetaria do National Museum of the American Indian, para provar alguma comida dos povos indígenas do continente americano. Logo à entrada do museu, a segurança, uma brasileira simpatiquíssima que nos ouviu falar a língua de Camões, depois de dois dedos de conversa, nos alertou que a comida do museu tinha preços exorbitantes, e que para comer comida americana havia um McDonalds logo ali ao virar da esquina. E tinha toda a razão! Com menus com preços a começar nos 18 dólares, 'virámos a esquina' e por 4.80 dólares comemos um delicioso McMenu tipicamente americano, com bebidas e dezenas de molhos à descrição.



Voltámos aos museus, logo por um peso-pesado, a National Gallery of Art, um dos 10 melhores museus de arte do mundo. Duas horas depois foi a vez dos National Archives, só mesmo para visitar a super cinematografada rotunda, onde estão expostas as versões originais da Declaração da Independência, a Constituição, a Carta dos Direitos e... da Magna Carta, do Rei Eduardo I de Inglaterra, o documento que deu origem ao constitucionalismo.
Auto-retrato de Van Gogh
São Martinho e o mendigo de El Greco



Lavender Mist de Pollock, onde até uma barata e um maço de tabaco entram na obra 



Mais à frente fica o melhor museu de história natural do mundo (esqueçam o de Londres ou de Nova Iorque). As quase três horas que lá passámos dentro foram manifestamente insuficientes.

Por último na saga dos museus deste dia, faltava o National Museum of American History, o museu dedicado à cultura social, política e científica americana, com objectos tão variados como várias bandeiras americanas içadas em diferentes períodos da história, vestidos das primeiras damas, os sapatos escarlate da Dorothy do Feiticeiro de Oz, as luvas de Mohammed Ali (aka Cassius Clay) ou... a cozinha original de Julia Child (quem não sabe quem era, vá a correr ver o filme Julie & Julia).




Mesmo em frente fica o Washington Monument, o obelisco mais alto do mundo. Com quase 170 metros de altura, chegou a ser a estrutura mais alta do mundo até à construção da Torre Eiffel. Foi com alguma surpresa que descobrimos que em 2011 houve um terramoto e que desde então o monumento estava fechado, sendo impossível subir ao topo. Pelo menos, sobrou tempo para tirar algumas fotos divertidas...


Finalmente, a Casa Branca, que fica a dois passos dali. A segurança é mais que muita, com vários anéis de policiamento que não impedem que se avance até junto do muro da propriedade. O Obama andava em campanha, e também em campanha andavam alguns manifestantes que por ali estavam, especialmente uma senhora que parece que está lá há uns 30 anos. É possível visitar a Casa Branca. No caso dos turistas estrangeiros, a marcação dessa visita é feita pela embaixada do país do visitante. Enquanto preparava esta viagem liguei várias vezes para a Embaixada Portuguesa em Washington, mas nenhuma das pessoas com quem falei sabia como funcionava essa marcação. Bolas!


Voltámos para casa dos nossos anfitriões de autocarro. Eles tinham-nos convidado para jantar com eles, e assistir ao Halloween como é vivido pelos americanos. Foi uma experiência fantástica. Ao longo do jantar e até depois da meia-noite, eram milhares de crianças pelas ruas, com disfarces tipo carnaval, a tocar a todas as portas com o trick-or-treat que costuma aparecer nos filmes. O Douglas e o Raymond tinham preparado um caldeirão grande, cheio de rebuçados e doces, e lá iam distribuindo as guloseimas à medida que as crianças iam aparecendo. Depois de três horas nisto, passámos nós a fazer esse papel... só vos digo, foi das experiências mais incríveis que passei. 




sábado, 9 de fevereiro de 2013

Filadélfia

O último despertar em Nova Iorque foi com o cheiro de waffles. Tivémos muita sorte nas pessoas que nos acolheram em Nova Iorque. Depois das panquecas do Ben, foram as waffles do James. Acabadinhas de fazer, com mel ou manteiga, 'souberam a ginjas'.


Não dava para perder muito tempo. Às 10h saía do Bus Terminal, que ficava a uns 100 metros do loft do Henry e do James, o autocarro da Greyhound para Filadélfia, que nos custou 9€. É uma viagem de cerca de 2h, o que nos vai permitir chegar a Philly mesmo à hora de almoço.

Depois do espetacular pequeno-almoço e de selecionarmos algumas coisas que íamos deixar em casa deles e recolheríamos no regresso a Nova Iorque, lá fomos para Filadélfia. Foi uma viagem agradável pelos campos de New Jersey até à Pensilvânia, provavelmente o estado americano historicamente mais rico. Os autocarros com internet wireless e tomadas para computador eram porreiros.


Chegámos a Filadélfia ao meio-dia. Já sabia que não havia cacifos disponíveis para guardar as malas, pelo que tivémos de carregar as malas todo o dia. O que vale é que a primeira paragem era logo ali ao lado: o Reading Terminal Market, um dos melhores mercados alimentares do mundo. Mas nem era por isso que fazia questão em lá ir... mas sim pelos Amish, que vão lá vender os seus produtos. Tenho um grande fascínio pela cultura e pelo povo Amish, desde talvez os meus 12 anos, e vê-los ao vivo e de uma forma tão realista foi a concretização de um sonho.





Porém, os produtos vendidos pelos Amish não estavam cozinhados, e nós ainda não somos vegetarianos, por isso comemos o prato tradicional de Filadélfia, o Philly Cheesesteak. De certeza que as nossas vidas foram encurtadas com a quantidade de colesterol que ingerimos nesta sandwich de carne de vitela frita com queijo derretido. 

Já com a barriguinha atestada, uns 20 minutos depois, chegámos ao Parque da Independência com as nossas malas. A vantagem de ter sido a primeira capital dos Estados Unidos da América é que o centro histórico está todo muito próximo, tudo à volta do Parque da Independência. Passámos pelo Visitors Center para pedir informações e mapas.


O Independence Hall é um dos sítios mais importantes da história americana. Aqui foi feita a Declaração da Independência, redigida por Thomas Jefferson, e ratificada a Constituição Americana, com George Washington como primeiro presidente. Ao longo de uma visita guiada, uma guia explicou-nos o contexto histórico e social da época, enquanto nomeava nomes que já tínhamos ouvido aqui e ali.




Depois, já noutro edifício, fomos ver o Liberty Bell, outro dos símbolos da independência americana (e que rachou logo no primeiro toque). 

Toda a zona envolvente é muito gira, e o tempo estava óptimo, diametralmente oposto ao dia anterior em Nova Iorque.


Descansámos um bocado na Washington Square, junto ao Túmulo do Soldado Desconhecido, enquanto me orientava com o mapa para perceber que autocarro teríamos de tomar para ir até outro ponto de interesse da cidade... o Pat's King of Stakes, o restaurante mais autêntico de Filadélfia. Tão autêntico que até o Obama lá foi (e o Kerry e quase todos os candidados presidenciais)! Aqui não havia grandes alternativas, e acho que foi a fast-food mais fast-food que comi na vida. Não é que fosse mau, mas o sabor enjoativo da carne frita e do queijo... uma sandwich foi suficiente para os dois, e guardámos a outra para a viagem.





Depois de uma viagem de autocarro e outra de metro (esta de metro foi uma verdadeira aventura por causa do sistema de ticketing) chegámos ao sítio de onde partia o autocarro que por 12.5€ nos levaria para Washington. Deveria sair às 18h10 mas atrasou quase uma hora. Apesar de ser de uma companhia diferente, a Megabus, também tinha wi-fi e tomadas para ligar computadores ou carregadores. A meio do caminho parámos em Baltimore uns 20 minutos e aproveitámos para comer a sandwich. Depois de passarmos o Delaware e Maryland, chegámos a DC, como lhe chamam os americanos, às 22h30. Do autocarro liguei ao Raymond, a avisar do nosso atraso. 'Don't worry darling, Douglas is gonna pick you up!'. Que sweet!