No Holiday Inn de Algeciras o pequeno-almoço também estava incluído. Ainda bem, porque assim saímos logo diretos para o porto, onde tínhamos de estar às 8h30. Um agente da empresa de tours (FlandriaBus) confirmou os nossos nomes, trocou os vouchers pelos bilhetes do barco e deu-nos algumas instruções. Ainda esperámos um bocado porque o nosso barco era só às 10h.
Chegámos a Ceuta após 35 minutos de viagem, e no ponto de encontro marcado lá estava o guia à nossa espera. Era um marroquino alto e forte, com a mania que era o maior, com piadas básicas e forçadas, que já deveriam ter sido repetidas centenas de vezes. O grupo também não era muito famoso: três coreanos, duas australianas, um casal e o filho americanos e mais meia-dúzia de personagens sem grande piada.
Dentro do autocarro o guia começou por fazer uma introdução enquanto atravessávamos Ceuta. Achei a explicação fraca, por isso vou complementar aqui com o que li no Lonely Planet e a minha cultura geral. Certamente que os meus caros Mark e Pinguim farão comentários construtivos sobre o tema ;-)
Ceuta é atualmente uma possessão espanhola, um enclave no norte de África (outro é Mellila). Não achei uma cidade particularmente bonita, ao contrário do que dizia o guia. Nos últimos 1000 anos passou pelas mãos de romanos, muçulmanos, espanhóis e, claro, portugueses. Quando, em 1580, o Rei D. Sebastião morre, Ceuta pertence a Portugal. Porém, a Dinastia Filipina passou Ceuta para domínio espanhol, e em 1640 com a Restauração da Independência essa situação não se alterou: desde aí que Ceuta é território espanhol, apesar de alguns distúrbios com as autoridades ou rebeldes marroquinos de vez em quando.
Apesar do domínio português ter perecido já há 450 anos, muitas marcas lusitanas permaneceram: o brasão da cidade é idêntico ao escudo português; as festas locais são celebradas a 13 de Junho, em honra a Sto António, com romarias; a estátua do Infante D. Henrique ocupa lugar de destaque numa das principais praças; o forte, construído pelos portugueses, é uma das principais atrações da cidade.
A visita à cidade de Ceuta não estava incluída, mas do percurso do porto à fronteira deu para termos uma ideia. Depois da fronteira, a realidade é completamente diferente, entre os resorts turísticos à beira mar e os bairros pobres da periferia das cidades.
Visitámos a medina de Tetouan, uma das mais autênticas do norte de África, Património da Humanidade. E, de facto, podemos falar de autenticidade, fez-me um pouco de impressão ver a carne, o peixe e até o pão coberto de moscas. Inclusivamente o guia comprou um pão (desse mesmo, coberto de moscas) que repartiu por todo o grupo, porque "o Islão ensina-nos a partilhar". Mais tarde percebemos que o objetivo era que partilhassemos também os nossos euros com ele.
O almoço foi num restaurante no meio da medina. Durante o almoço vieram vários músicos e malabaristas fazer curtas atuações de 5 minutos, que terminavam sempre com a volta pelas mesas à procura de gorjetas. Ao fim do terceiro número tornou-se cansativo.
Depois do almoço, mais umas quantas voltas pela medina, com o guia a explicar detalhes da actividade dos artesãos e dos hábitos e costumes muçulmanos. Por não ter engraçado com o guia, achei a explicação dada em Tunis pelo vendedor de perfumes muito melhor.
Voltámos para o autocarro, com destino a Tanger, eram umas 14h30. Em Tanger um outro guia fez uma curta descrição da mesquita local e da história da cidade (tal como Ceuta, Tanger foi uma possessão portuguesa), antes de nos introduzir na medina da cidade, esta um pouco menos culturalmente chocante. De acordo com o programa, visitariamos uma fábrica de preparação de medicamentos artesanais e uma fábrica de tapetes. Bem... a fábrica de medicamentos não era bem uma fábrica. Meteram-nos numa sala, com um marroquino a falar espanhol e a desfilar frascos com cremes e ungentos de origem duvidosa, para a pele seca, perda de cabelo e até o célebre (?) viagra marroquino, 'muito melhor que o original', num espetáculo que fazia lembrar uma versão arcaica das vendas na excursão da Mister Charly que fizemos a Santiago de Compostela.
Quanto à fábrica de tapetes, a única coisa que valeu a pena foi a subida ao terraço para ver a medina de um ponto mais alto. De resto, foi um vendedor a fazer o melhor que podia para nos vender uns tapetes com 'tinta eterna que nunca perdem a cor', 'alta qualidade', com Eusébio, Mourinho e Cristiano Ronaldo à mistura, enquanto nos impingiu um chá de menta com ar de água de lavar a loiça. Enfim, o que não mata, engorda.
Quanto à fábrica de tapetes, a única coisa que valeu a pena foi a subida ao terraço para ver a medina de um ponto mais alto. De resto, foi um vendedor a fazer o melhor que podia para nos vender uns tapetes com 'tinta eterna que nunca perdem a cor', 'alta qualidade', com Eusébio, Mourinho e Cristiano Ronaldo à mistura, enquanto nos impingiu um chá de menta com ar de água de lavar a loiça. Enfim, o que não mata, engorda.
Sempre que saíamos para a rua um batalhão de vendedores rodeava-nos, tentando vender desde ímanes para o frigorífico até estatuetas de madeira, incenso, chinelos e a alma da avó. Lá fiz um bom negócio com os ímanes e comprei meia-dúzia a 50 cêntimos cada.
Voltámos para Ceuta por um percurso bonito, numa estrada junto ao mar, com passagem por aldeias de pescadores e ruinas de um forte construído pelos portugueses. Na fronteira, para além da habitual conferência de documentos, a polícia meteu dois cães a farejar o autocarro e as nossas malas.
Apanhámos o barco das 18h de volta ao Continente Europeu e ao nosso Bunnycar que aguardava no parque de estacionamento do porto. No balanço final, apesar de não ter gostado muito da experiência, recomendo-a a quem tem curiosidade de conhecer uma cultura diferente e não tem muito tempo ou muito dinheiro para gastar.
Jantámos no centro de Algeciras, que não sendo uma cidade propriamente gira não deixa de ter uma praça central e umas duas ou três ruas pedonais agradáveis. Finalmente, voltámos para o hotel cerca das 23h, porque para além do cansaço no dia seguinte iriamos a outro país!
Descrição perfeita de Marrocos, uma das viagens que menos gostei...
ResponderEliminarAbraço
Tinha ficado com a ideia que tinhas gostado de Marrocos. Nós não tivemos direito a limusina branca como tu... :(
EliminarQuanto à parte histórica, está tudo correcto o que escreves.
ResponderEliminarNão gostei de Ceuta, gostei mais de Tãnger, mas de Marrocos, gostaria de conhecer essencialmente Marraquexe.
As medinas são muito parecidas em todos os países do norte de África. Na Tunísia, são o mesmo - visitar uma é visitá-las a todas. O que é preciso ´r regatear os preços...
Concordo contigo em relação às medinas. Muito poucas novidades. Talvez Istambul possa trazer algo de novo, quando lá formos.
EliminarTinha alguma curiosidade em relação a Marraquexe, agora diminuida pela má experiência.
Não conheço nem tenho a mínima vontade...a cena das moscas na comida, os batalhões de vendedores que não te largam, uma gastronomia que não me agrada, enfim, não duvido que em termos culturais tenha alguns aspectos interessantes, mas é um destino que está mesmo no fim da minha lista.
ResponderEliminarEu não tenho grandes problemas em ambientes culturalmente chocantes. Já vi coisas (e comi algumas delas) mesmo abomináveis. Mas desta vez, não sei porquê, fez-me mesmo impressão.
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