Como já é habitual, a saída de casa foi o pânico do costume. Depois de semanas a planear os 5 dias em Nova Iorque consegui fazer a proeza de deixar o mapa onde tinha assinalado os 57 pontos de interesse em casa (e ainda levei nas orelhas do meu coelho que sou despassarado). Levei apenas um mapa onde tinha os pontos assinalados, mas sem a respetiva legenda, o que até se tornou divertido, porque por vezes não sabiamos bem o que é que estávamos à procura. De qualquer forma, com a tempestade que se avizinhava, nem sabia se ia ver sequer algum dos pontos de interesse.
No aeroporto não houve stresses, e o voo não atrasou muito. Aterrámos em Newark às 16h. Estava sol, mas frio. Logo no controlo de passaportes começou a fita: tinhamos preenchido o formulário de entrada no país, mas no sítio da morada tinha posto apenas Manhattan. O bruta-montes do funcionário não gostou e desatou a fazer perguntas de onde íamos ficar, deu-me uma branca e não conseguia lembrar-me do nome nem da morada do nosso anfitrião, que estavam na mala de porão. Acabei por inventar uma morada ao acaso, que o tipo preencheu no papel e lá nos deixou sair.
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Em qualquer sítio onde vá, deliro a olhar para estes painéis! |
Por 9.80€ apanha-se o comboio do aeroporto de
Newark para a
Penn Station de Nova Iorque, a estação de combóios mais movimentada dos Estados Unidos (em
Newark também há uma
Penn Station, e o comboio também pára lá). 30 minutos depois estávamos no centro de Manhattan. A casa do nosso anfitrião ficava a 10 quarteirões dali (1 km), em pleno bairro de
Chelsea, já perto da
Village, uma zona muito
gay friendly. Fizemos esse caminho a pé (até foi rápido) e lá fomos bater à porta do
Jack.

O
Jack é um texano de 47 anos, professor de história e voluntário do projecto
It Gets Better. Já esteve em alguns dos sítios mais inóspitos do planeta (tem vídeos com pinguins que são de chorar a rir), e aí mesmo gravou alguns dos seus filmes do
youtube mais icónicos. Começa-se a falar com ele e a conversa flui sem darmos conta, por horas e horas. Identifiquei-me bastante com ele. Quando lhe perguntei se estava sozinho na vida, encolheu os ombros e disse 'Não há muitos gays com os mesmos gostos que eu, que gostem de grandes caminhadas e expedições de mochila às costas'. Não queria acreditar. Até aquele momento tudo o que o
Jack dizia era como eu me imagino daqui a 20 anos e de repente senti-me tão sozinho no mundo...

A casa do
Jack é umas casas mais pequenas que já vi (menos de 40 metros quadrados), tão pequena que não resisto a mostrar a planta. Ainda assim, tem lareira (deu um jeitão quando ficou sem eletricidade), tem um quarto com uma vista espetacular (sobretudo à noite) e... custou 350000€. 'É um investimento para a vida, e moro onde gosto!' Para além do
Jack vivem lá em casa dois gatos, que não hesitaram em nos saltar para o colo assim que nos sentámos no sofá. À noite acabaram por ter de ficar no quarto do
Jack, porque literalmente os gatos não nos largavam!
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Esta era a vista da janela do quarto do Jack. À noite era ainda mais espetacular! |
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O sofá onde ficámos, mesmo em frente à lareira |