dois coelhos

Esta é a nossa história, dois rapazes destinados um para o outro, que se conheceram quando um tinha 20 anos e o outro 26.
Desde esse dia que a nossa vida mudou para sempre! E vocês são as nossas únicas testemunhas!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Death Valley, o Vale da Morte

Sem surpresa, no dia seguinte não vimos ninguém. Acordámos, tomamos um banho na shower-caravan, comemos na kitchen-caravan, e lá liguei novamente à Cynthia, para saber como faríamos o pagamento da dormida. Deixámos o dinheiro, uns 44 dólares, dentro de uma jarra, no quarto. Tecopa vai ficar no meu imaginário como uma aldeia fantasma, pois não vimos, literalmente, ninguém.

Logo à saída da aldeia fica a entrada no Death Valley. Há vários avisos sobre a ausência de bombas de gasolina, oficinas e lojas nos 200km seguintes. Na última bomba, os preços do combustível eram quase o dobro, mas como já sabia isso tinha atestado o depósito na última passagem por Las Vegas.

Cerca de 90 minutos e 110km depois chegámos a Badwater, uma bacia de sal gigantesca, que é o segundo local mais abaixo do nível do mar no continente americano. Os cristais de sal formam esculturas com milhares de anos, e faz lembrar um pouco o lago Chott el Jerid que vimos na Tunísia. Foi aqui que há uns meses o português Carlos Sá se sagrou vencedor da ultramaratona, depois de percorrer 217 km (fónix!).









A temperatura mais alta alguma vez registada na Terra foi de 56,7º, em Furnace Creek, uns quilómetros mais à frente, ao pé do Devil's Golf Course, um sítio onde só mesmo o diabo poderia jogar golfe.



O isolamento é total. O facto de não ter rede de telemóvel durante uns 100 km não me surpreendeu, mas não apanhar absolutamente nenhuma estação de rádio deu-me a sensação de estar num sítio bem remoto. Durante todo o percurso no Vale da Morte, uns 230 km, cruzámo-nos com uns 5 carros. 








Passámos pela Artist's Drive, uma zona de rochas coloridas pela presença de diversos metais,



Zabriskie Point,



e depois virámos para oeste, em direção às Mesquite Flat Sand Dunes, num cenário que mais uma vez nos trouxe à memória o Deserto do Sahara que vimos na Tunísia. Já na parte final passámos por alguns vales cheios de Joshua Trees, uma espécie de cacto que parece que tem os braços levantados ao  céu. Foi nesta zona que vimos mais um por do sol espetacular.










Dali foi sempre a andar, 250 km para norte. A paisagem mudou rapidamente, do clima ameno e seco do Death Valley passámos a frio e neve, sobretudo depois de passarmos a cadeia montanhosa Panamint e subir ao longo da Sierra Nevada da California (de que faz parte o Mount Whitney, o mais alto dos EUA continental excepto Alaska) até Mammoth Lakes, uma vila mais ou menos conhecida na California como estância de ski.

Optei por ficar em Mammoth Lakes porque sendo fora do Parque Nacional de Yosemite (e, portanto, mais barato), fica a 'apenas' 150 km (o que em termos americanos é perto) de Yosemite Valley, o epicentro do parque.

Quando fizemos o check in no Motel 8 (40€ por um quarto standard), uma cadeia de motéis parecida com o Ibis, aproveitei para perguntar ao recepcionista sobre a qualidade da estrada dentro do parque. Foi aí que ele disse, bem à americana Don't you know? There was a big storm last week! Inicialmente pensei que ele se referia ao furacão de Nova Iorque, mas depois lá fiquei a saber que a neve que se encontrava por todo o lado tinha vindo de um nevão precoce que tinha ocorrido na semana anterior e... a estrada de acesso ao parque estava cortada! What? There's no way to get to Yosemite? perguntei, em pânico, mas o recepcionista não sabia ou não quis dizer. Estava desolado e disposto a qualquer coisa, nem que fosse preciso partir imediatamente. Mas também estava cheio de fome, por isso fomos afogar as mágoas no único sítio ainda aberto, o Domino's (curioso que em Sevilha também comemos no Domino's).


Na minha cabeça as ideias passavam a mil... não tinha nenhum mapa detalhado da Califórnia, e o Google Maps do telemóvel não estava a colaborar. Quando nos deitámos, pus o despertador para as 5h. O único plano era conduzir para norte, e esperar que alguma das estradas que atravessa a cordilheira da Sierra Nevada estivesse aberta ao trânsito. :(

8 comentários:

  1. Esses cento e tal quilómetros sem ninguém... é que é de medo. :s Mas estou a gostar do roteiro... mas isso não é viagem a mais? lololol pergunta um gajo que passado 5 minutos quer o brinquedo do outro lolol

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    1. O que me fez mesmo impressão nem foi o facto de não me cruzar com nenhum carro ou não ter rede de telemóvel... foi o rádio do carro não apanhar estação nenhuma. De repente, no universo, era eu e o P, e não era um sonho romântico...

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  2. E para quem pensa que o fim do mundo está em África, descobre-se de que afinal reside nos E.U.A. LOL It's so ironic. :D

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    1. Bem, o Fim do Mundo fica no ponto mais meridional do continente americano, junto ao Estreito de Beagle. Já o Cú de Judas fica na Ilha de S. Miguel, Açores, segundo nos ensinou o Sad Eyes.

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  3. Eu não me entusiasmo com estas regiões demasiado áridas, onde quer que sejam. No entanto as vossas reportagens são sempre entusiasmantes.

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    1. Eu, pelo contrário, entusiamo-me mais por regiões isoladas, sobretudo se exóticas. Já o P é um pouco como tu, gosta mais de grandes centros urbanos.

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  4. A vantagem de ficarem sós é a de poderem fazer o que vos der na real gana.... hoo fantasias! :P

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    1. Ok, vou confessar-te aqui...
      Monument Valley - check
      Death Valley - check
      Highway 1 (num próximo post) - check

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